outubro 14, 2009

u-ou

não é que qualquer coisa permitida seja permitida (todas as coisas são permitidas) e nem
que elas todas sejam coisas

uma coisa é uma coisa é uma _____ NÃO LIGO vai fazer ainda tempo que algumas coisas
são

coisas
que eu não consigo mais dizer

agora aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

você fala 'coisa' e isso pode ser tudo pode ser até um verbo ou um adjetivo a gente usa demais a palavra coisa
tanto que tanta coisa que não faz sentido faz

o que todo mundo queria era poder gastar os tubos no que ninguém quer / eu quero / ou: 'como se eu não pudesse'

(não sei se é agora que eu devia citar outras coisas em uma construção sintática [construção
sintática!] de oposição a algumas coisas)

já não posso estender os raciocínios para além de um punhado
de
uou
fins

outubro 13, 2009

Ladies and gentlemans, will we be always floating?

Imagino o fim da Terra como sendo o fim de todas as coisas mas não é.

Há uma cidade na borda de um deserto que se estende por um infinito
branco
que não é exatamente uma Coisa e sim as palavras que imaginamos para elas: imagino o fim das palavras
como sendo o fim da Terra

O ponto final na página de uma última frase escrita por um último escritor em uma cidade fora do tempo
que se estende por um infinito branco que foi o fim de todas as coisas

O problema do sentido é que me incomoda e se as palavras já não dizem nada e é impossível que possamos descrever as novas
coisas
de novas formas
o ponto final da linguagem pode ter sido colocado por Wittgenstein ou Homero antes dele

o problema é que Borges não via problema em repetir as quatro histórias que são todas as histórias

eu não vejo problema em Borges fazer isso até porque Borges o fez com maestria e qualquer reconstrução feita por Borges
me admira
Rimbaud ter dito que inventou novas flores, quando não inventou: tampouco inventei a Cidade ou o Deserto Branco
ou as Flores

a Cidade é sobre a Primeira História. O Deserto Branco, sobre a Segunda & a Terceira. E as Flores são os sinais de pontuação gráfica com que terminaria a Quarta
se me fosse possível criar novos Deuses.

Imagino que esta não seja a primeira civilização que se esgota.

outubro 08, 2009

thishotshit

i don't want this shit to be this shit anymore
i don't want my shit to be your shit anymore / i want my shift back
hate me
fffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffffff

setembro 17, 2009

cru, yet

embora não me lembre
de ter ido um dia            há uma janela
onde antes houve            nada
e um riso que se enche / e embora eu não me lembre
de.ter.ido.um.dia
caso o passado seja de fato um *Presente Eletromagnético* em *Alguma Estrela*
é de RIO como metáfora para FLUXO
que foi feita
a luz

setembro 05, 2009

>>>

she prints "eu.te.odeio".toUpperCase();

agosto 21, 2009

plis olhou para o retângulo de papel brilhante com imagens impressas que segurava em sua mão esquerda e pensou que coisa mais tosca e virou o papel para saber se aquilo era de fato tudo e sentiu uma onda de frustração. Era a primeira vez que plis via uma fotografia do século passado, revelada em duas dimensões; desde que se lembrava, o processo de capturar imagens estáticas evoluíra bastante, mas nunca vira nada tão precário. (O próprio conceito de estático mudara, embora plis não atentasse para isso.) A foto tirada por sua mãe quando ainda criança em Mil-Novecentos-Noventa-&-Alguma-Coisa era quase pré-histórica para plis, acostumado com imagens hologramáticas que registravam um instante: algo que para a sua geração durava alguns segundos de movimento - como aquelas fotos mágicas que existiam no mundo de Harry Potter, mas em três dimensões.

agosto 18, 2009

Otávio resmungou vocês e suas frivolidades teóricas quando eu disse que ficar envolvia uma série de decisões que não poderiam ser tomadas sem análise apropriada e reclamou que Brigite tampouco tinha tempo para ele embora ele fosse casar com ela em menos de 30 horas, casar mesmo, na Igreja, e não havia nada que eu pudesse fazer a não ser ir embora. Otávio, desde que começara a frequentar os círculos sociais de minha família, deixara bem claro que não gostava de Frederico, e hoje, pensando, talvez tenha sido exatamente por essa clareza em não gostar de Fred que eu tenha me aproximado de Otávio. Mas daí a ficar para perpetuar uma enganação.
O que resta, hoje, é o fluxo.
Medo de perder a construção do Mundo. O estertor do Mundo.
Um medo rútilo
um discurso curto, uma limitação
fútil.

agosto 13, 2009

É curioso que não tenhamos encontrado nada de diferente nessa viagem. Ontem o projeto completou dois anos e ainda não avistamos um único ser vivo. Uma vez, bastante à leste daqui, quando ainda estávamos no mar, julguei ver uma sombra negra, grande como uma cachalote, perto da região que batizamos de Pequeno Canal e que se tratava de um fino estreito, delineado por falésias intransponíveis, que ligava dois Oceanos inominados, mas não passou disso - uma impressão. De resto, a expedição tem sido assustadoramente tranquila. Estamos em uma praia agora, bem distante do Canal (creio). Desembarcamos há três dias, mas ninguém se aventurou a entrar mais do que alguns metros na floresta de árvores altas que limita o fim da faixa de areia. As árvores parecem árvores, de qualquer maneira. É incrível como todos os lugares estão cheios de árvores. Mais cedo, enquanto cozinhávamos um pouco do resto de comida que ainda nos resta, lembrei de um poema de Blaise Cendrars. Chama-se Borboleta, transcrevo-o da forma como me recordo dele (nunca o li em francês): "É curioso / Já há dois dias que estamos à vista de terra e nenhum pássaro veio a nosso encontro nem se meteu em nosso sulco / Em compensação / Hoje / De madrugada / Ao penetrarmos na baía do Rio / Uma borboleta grande como a mão veio viravoltear em torno / do navio / Era negra e amarela com grandes estrias de um azul apagado". Viravolteio pelo acampamento mais um pouco antes de dormir. Amanhã, à Floresta Das Árvores Altas.

agosto 12, 2009

I've went, and came back. If it took 10 years, or one day, it doesn't matter: the journey, endless, is just a symbol. As symbols are the Cyclops, the seas, and the blind seer. The Symbol is the regress; the trip, just the process; and this scar I have in my leg isn't actually a scar: it is more a map - and a sign.

agosto 11, 2009

li isto em algum lugar, otávio, e é verdade, sei agora que é: tenho ciúme desse cigarro que você fuma tão distraidamente. sei que tenho. você não tem? tenho inveja do tempo que você leva para acender um cigarro, sempre dispendioso; da fumaça que você solta arrogante e engole mais uma vez, em dois tempos. e eu não tenho tempo para explicar mais: a frase, no original, era dividida ritmicamente em dois períodos - um para o ciúme, outra para a distração. também divido você em dois períodos: um para ser, outro para... não, não queria ser tão óbvia. não queria sacar uma referência só para ser referencialmente óbvia depois. e sim, otávio, eu sei onde li o poema que cito (não cito de memória). não queria é que você soubesse. e você sabe, eu sei.
Quando Helena sugeriu que U deveria sair agora U não achou que fosse séria a sugestão; não que fosse séria: achou que era uma brincadeira. Não era. Helena queria transar com U e por isso sorrira - ela sabia que o sorriso desencadeava o desejo - mas nunca quis passar o dia com U. De uma maneira mais sádica, usara o mesmo sorriso com Mariana, que ficara de ligar esta tarde. Queria passar o dia com Mariana. Helena havia esquecido Mariana, mas a lembrança de uma espera que não houve em um reencontro mínimo trouxe uma vontade que Helena não achava que fosse capaz de controlar (embora tenha sido e não tenha transado com Mariana). No retorno, Helena quis se entregar para U, mas com Mariana ela queria mais, e era difícil admitir isso. Helena sabia que Mariana, na melhor das hipóteses, ficava com garotas apenas por diversão. U e Helena é que eram singularidades na história de Mariana, não o contrário, e era de certa forma triste para Helena perceber que Mariana não queria mais namorar com ela; perceber que Mariana não estava mais presa no passado. Era melhor para Helena acreditar que Mariana estava, do que dizer para si mesma que ela queria apenas sexo: por isso não transou com Mariana: para evitar a vontade de um algo mais. Mas com U era diferente. A distância do momento em que Helena amou U é imensa agora, só a lembrança de um desejo infantil. Não tem medo de se apaixonar por U - isso poderia acontecer, mas seria o processo em si, um novo processo, e não um retorno a algo que não mais existe (o romance com Mariana). E U, apesar de não ficar apenas com garotas - como Helena - é mais ligada às garotas com quem ficou (o que quer dizer que ela transou com alguns caras mas nada demais). A espera, agora, mais do que nunca, é de Helena.
Etílanas, liot, iki qen dás,
fang inferns ah la láf:
trRe qi Fasdstem, trRe láf
O lans gruffet iki gila Dunt vela puint áj

julho 29, 2009

Estela Bitencourt passou aquela tarde toda escrevendo em folhas de papel A4 barato com canetas coloridas listas de compras que precisava fazer e de providências que precisava tomar antes do casamento da irmã, Brigite, que aconteceria em uma data bem próxima agora e deveria ficar marcado (no sentido de pretendia ficar marcado) a todo custo na lembrança dos familiares e amigos como o evento social da década, pretensão que não dava margem para erros. E Estela até ajudava, mas não podia concordar com isso. Não com uma festa que era praticamente uma antítese do seu próprio não-casamento, mas ninguém se lembrava daquela festa, nem mesmo Estela, que há duas noites fora abandonada por aquele infame Frederico Soares, esta montanha de princípios errôneos, antiga paixão de infância com quem Estela havia morado por seis anos, por falta de recordações ou referências melhores. Note que quando eu falo que Estela não lembrava, o que quero dizer é que ela se esforçava para não lembrar.

Estela não lembra por que Fred saiu de casa, nem por qual porta foi, e era realmente importante, ela achava que era importante, que ele tivesse saído pela porta da frente, não pela porta lateral, tão dada a retornos e incertezas. Depois que Fred deixou a casa, Estela levou muito tempo para entender que ela é que havia ido embora, não ele. À noite, depois de beber uma garrafa e meia de vinho, digitou três longos emails que nunca chegou a mandar: o primeiro, para seu chefe (um produtor de moda tão sádico quanto gay que sentia inveja de sua órbita como Marjorie havia sentido ao criar força gravitacional em Bernice), se tratava de uma carta de demissão cheia de mentiras que Estela passou horas inventando para justificar o fim. O segundo, em que pedia desculpas por não poder ficar para a festa, era para Brigite. Estela se comprometia, entretanto, em deixar quantas listas feitas fossem necessárias para manter a cadência dos afazeres para que a irmã mais nova perdoasse a sua ausência. O terceiro era para ela mesma, no futuro.

julho 23, 2009

Tudo poderia ser reinventado: os livros espalhados que não li, mas comprei; os livros que eu esqueci que li; os que citei sem ler. O despertador-celular que toca sem parar na bagunça do quarto e me diz que de alguma forma já é hora ir. Poderia reinventar as formas de te dizer oi e aquele jeito simbólico de dizer boa-noite. Reinventar os relacionamentos, as condições do desejo - repensar as condições do tamanho do desejo. E com o que nos importaríamos? Reinventar o início, as opções de fim, o processo e o fluxo. Reinventaria nossos nomes se pudesse; e esse parágrafo. E, olha, eu posso.