maio 22, 2009

o passado é o passado do passado

amo tua boca como amei tua boca
de fumaças
como
se
fosse
não
amar
tua boca
o significado de todo o universo
e o universo não significasse nada

maio 15, 2009

o futuro é o passado do futuro

voltar é andar
para trás e é deixar
para o passado uma espécie
de futuro
inacessível (em conceito).

voltar é voltar
como se retroceder
fosse de certa forma acessível
e essa área (o futuro), não.

esta área é que não é acessível.

abril 16, 2009

the coolest kids

aliás, nem éramos
os únicos a dançar 

março 25, 2009

Ela acendeu mais um cigarro antes de continuar a fazer as contas. Era uma das últimas pessoas que ainda fumavam cigarros de verdade, com nicotina e alcatrão. Ele não sabia o nome dela. Não perguntara. Não tenho certeza se depois daquela noite ainda sabia o próprio nome. Ela o chamava de Sy, eu até poderia dizer por que, mas não sei. Sy é o código de domínio na Internet para Síria, mas ele não parecia nem de longe um árabe. Sy - magro, branco, cabelos pretos emoldurando o rosto trágico - parecia Case, um visual cyberpunk nostálgico, embora totalmente inconsciente.

Através da porta aberta ele podia vê-la mexendo nas prateleiras do banheiro, usando apenas uma calcinha, o perfil do rosto escondido pelo cabelo. Eram muito parecidos fisicamente, só agora tinha reparado, embora ela tivesse traços um pouco mais orientais e ele precisasse ir embora. Por isso perguntou onde exatamente estamos enquanto vestia a calça com que saíra ontem, agora toda suja de barro. Não tinha ideia de como voltar para casa, mas ela não respondeu nada. Nada. Apenas entrou no quarto e o empurrou de volta para a cama.

março 20, 2009

Helena ficou perto da janela com o telefone na mão esperando muito tempo por uma mensagem que nunca chegou. O céu estava claro como devia ser sempre o céu em uma tarde fria de inverno em que o vento arrasta folhas solitárias por ruas vazias mas Helena não teve vontade de sair. Helena tinha vontade de falar com Mariana, e foi por isso que ficou tanto tempo perto da janela olhando o vento que arrastava as folhas solitárias pela rua vazia em frente ao seu flat alugado tentando não pensar na mensagem - e só conseguindo pensar na mensagem, o tempo todo. Mesmo quando finalmente saiu de casa para enfim acompanhar as folhas levadas pelo vento, Helena continuou pensando na mensagem que nunca chegou - embora não segurasse mais o celular na mão e ao invés de uma roupa qualquer vestisse um casaco preto, de um justo bonito, seu maior cachecol, tão longo que mesmo com várias voltas no pescoço ainda podia passá-lo pelo cinto, e um chapéu de abas curtas, que devia impedir o vento de bagunçar sua franja loira como bagunçava as folhas caídas das árvores.

fevereiro 11, 2009

ontem?

coisas não retêm
forma
lembrar é apenas ter saudade
de palavras
que não usa mais no plural

dezembro 29, 2008

tl;dr

stop typing
this stupid
chat

dezembro 27, 2008

Naquela noite Valter pediu pela tela-entrega uma porção grande de yaksoba, quatro rolinhos primavera e duas latas de refrigerante (uma coca-cola e uma fanta laranja). Valter não gostava de descer até a portaria para pegar as entregas, mas essa era uma norma do condomínio e ele gostava menos ainda de sair para comer. Não se sentia mais confortável fora do apartamento de três quartos em que morava sozinho e evitava deixar o prédio. Desceu os três andares pela escada. Embora tivesse começado a usar as escadas há apenas algumas semanas, se sentia um pouco melhor. Antes, quando ainda saía de casa, preferia o elevador, mais para se olhar no espelho do que por preguiça. No apartamento só tinha um espelho de rosto, no banheiro, e não gostava de parar em frente ao espelho do hall. O do elevador era mais discreto. Mas dessa vez, enquanto andava até a portaria, não conseguiu evitar o grande espelho e percebeu que na pressa para buscar a comida pegara uma camiseta suja e uma moradora que estava entrando no prédio pareceu notar quando o cumprimentou com um sorriso. Nunca se importava muito com isso, só que conhecia essa garota e ficou um pouco envergonhado. Ela tinha os cabelos pretos e era muito magra, de um jeito bonito. Morava com os pais em algum dos últimos andares. Mariana ainda esperava o elevador quando Valter voltou. Ele preferiu as escadas. Depois, sentou-se em frente ao computador e começou a arrumar a janta. Além do yaksoba, das duas latas de refrigerante e dos quatro rolinhos primavera, havia na sacola um pacote com o troco, quinze sachês de molho agridoce e um par daqueles palitinhos de madeira que Valter nunca havia decidido se preferia chamar de pauzinho, hashi ou chopstick.

dezembro 12, 2008

No banho U se masturbou até o orgasmo duas vezes, na primeira com o dedo médio, e na segunda com um tubo vazio de m&m's. Depois, ficou deitada pensando em Helena e no fim da espera e em Mariana e no fim da espera e em Camila e no fim da espera e no fim da espera e no fim da espera. U sabia que alguma coisa tinha acontecido logo que saiu do flat alugado da Helena querendo ligar para Mariana para pedir desculpas e só não ligou porque era cedo demais e não queria acordá-la. Também sabia que não devia ligar por saber que não precisava ligar para Mariana para pedir desculpas. U na verdade queria estar com Mariana. Queria estar com alguém. Não tinha a mínima vontade de ficar sozinha, e foi por isso que ligou para Camila (Camila estava sempre acordada) e convidou-a para sair. Ainda não tinha entendido o que acontecera e agradeceu quando a amiga disse que precisava mesmo tomar um café. Foi sentada em um banco de praça esperando Camila com uma ansiedade não-natural e tentando se lembrar de detalhes da noite anterior (Quando encontrara Helena? / O que tinham conversado? / Qual música tocara no momento exato do reencontro?), que U sentiu que algo havia acabado e pela primeira vez se deu conta do fim da espera. E com isso veio um gosto de incompleto somado a um sentimento de incerteza sobre o futuro. U às vezes pensava sobre o futuro, claro, mas não costumava se preocupar com ele como se preocupou àquela hora da manhã, com frio, sentada em uma praça vazia esperando uma menina de quem já nem gostava tanto. Só que a presença dela acalmou U, que se sentiu mais confortável depois de fumar um daqueles cigarros fracos que Camila, que quase nunca fumava, sempre tinha.

novembro 01, 2008

Helena tinha saudades de coisas que teve por tão pouco tempo que era como se não as tivesse tido.

outubro 22, 2008

saudadiiis amore S2: ta ai?

saudadiiis amore S2: vc ta ocupada?

saudadiiis amore S2 acabou de pedir sua atenção

saudadiiis amore S2: ta aiiiiii??/???/?//

outubro 21, 2008

Julieta pegava o metrô todo dia e dizia para si mesma que era legal pegar o metrô todo dia "não se preocupe com isso, Julieta". Julieta gostava de dizer essas coisas para si mesma. "O Metrô é legal, Julieta". Julieta matou Romeu com o cabo do telefone enrolado no pescoço e enfiou folha por folha a lista telefônica em seu cu. Julieta sempre sonhara em ser old school.

coisas que nunca tive:

1 - dinheiro o suficiente
2 - carteira de motorista
3 - um momento infinito embora ínfimo que resumisse o universo a uma lágrima seca sobre uma pétala de rosa vermelha jamais tocada pelo triste orvalho de uma manhã de outono
4 - cuecas box

outubro 05, 2008

Depois de cheirar o resto de cocaína que encontrou sobre a mesa de vidro da sala e tomar oito copos de água U perguntou pela terceira vez para Renan como é que você veio parar aqui, não por estar incomodada com ele dormindo em sua cama, mas porque ela tem essa mania obsessiva de reconstruir detalhadamente suas noites e Renan sabe, por isso pediu desculpas quando respondeu pela terceira vez que não fazia idéia, e então U pegou o telefone e ligou para Mariana só para descobrir que ela também estava ali, no quarto de visitas com Helena, que Vinícius, semi-consciente, insistia em chamar de Estela.

outubro 02, 2008

T.D.A.H.

eu gosto de morder
um bonequinho
verde-limão da vivo
com o canto da boca

é tipo aquele chiclete de gosto infinito
só que sem o gosto