março 25, 2009

Ela acendeu mais um cigarro antes de continuar a fazer as contas. Era uma das últimas pessoas que ainda fumavam cigarros de verdade, com nicotina e alcatrão. Ele não sabia o nome dela. Não perguntara. Não tenho certeza se depois daquela noite ainda sabia o próprio nome. Ela o chamava de Sy, eu até poderia dizer por que, mas não sei. Sy é o código de domínio na Internet para Síria, mas ele não parecia nem de longe um árabe. Sy - magro, branco, cabelos pretos emoldurando o rosto trágico - parecia Case, um visual cyberpunk nostálgico, embora totalmente inconsciente.

Através da porta aberta ele podia vê-la mexendo nas prateleiras do banheiro, usando apenas uma calcinha, o perfil do rosto escondido pelo cabelo. Eram muito parecidos fisicamente, só agora tinha reparado, embora ela tivesse traços um pouco mais orientais e ele precisasse ir embora. Por isso perguntou onde exatamente estamos enquanto vestia a calça com que saíra ontem, agora toda suja de barro. Não tinha ideia de como voltar para casa, mas ela não respondeu nada. Nada. Apenas entrou no quarto e o empurrou de volta para a cama.

Um comentário:

Unknown disse...

Pena que esses textos nunca continuam. Ou, sei lá.