tenho sabão no cabelo. por um momento,
um breve momento, isso me incomoda. depois esqueço.
há coisas melhores para se pensar, outras idéias, outras imagens
como caminhar na praia. como escrever uma poesia. como um beijo.
me observo:
estou sem camisa, está frio e me sinto gordo.
por um breve momento isso me incomoda.
depois passa. depois penso em outras pessoas, coisas
em outros sonhos. e se serei capaz.
penso em outros olhos, bem mais claros que os meus
e por um momento tenho a vista embaçada, mas isso não me incomoda.
também não me incomodaria se por um momento, mesmo breve
eu fosse a poesia.
definitivamente não me incomodaria.
tenho fome. e isso vai me incomodar até que eu coma.
e há mais: vontade de ganhar um abraço, vontade de andar de moto
vontade de gritar, de tocar guitarra
de escrever uma poesia épica
um poema piada
dois hai-kais e meia dúzia de poemas normais.
tenho bolhas de sabão no cabelo, sabonete nas sombrancelhas
e vinho no chão do meu quarto.
havia poesia nas minhas mãos, mas eu deixei cair pela janela do terceiro andar.
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