julho 27, 2006

Manual Prático de Sobrevivência Poética I

Não confiar só nas palavras.
Elas são deliciosas mas vis.
Ter cuidado também ao dar confiança
exagerada às manhãs ou às madrugadas
- aos cafés, bentevis e sopas
(dependendo do gosto do poeta).
Confiar vez ou outra
em algum sentido oculto.
E vez ou outra confiar cegamente
nas palavras, que são tudo o que
nos restou do mundo.
Ter cuidado de estuprar poemas alheios
com certa periodicidade e violência lúbrica.
Não ter pudor de copiar poemas alheios
quando se mostrar necessário.
Deixar de escrever crônicas, contos
e matérias jornalísticas
para escrever uma poesia, por menor
que ela pulse. Deixar de escrever um poema
para ler um outro (ou escutar uma música).
Deixar de escutar uma música para dar um beijo,
que é uma outra maneira de escrever um poema.
Às vezes esquecer as palavras pois também
existem os silêncios. Outras, escrever
com disfunção de horário.
Ter uma hora certa para escrever
(como uma manhã de domingo)
se não deixar de escrever em manhãs chuvosas.
Ter uma idéia genial para um poema
enquanto anda na rua.
Não anotar e esquecer, que é mais legal
do que se tivesse escrito.
Ter uma idéia genial para um poema
enquanto toma banho.
Anotá-la no vidro do box com o dedo.
Derreter-se com certas palavras
ditas ou lidas em certos momentos
com precisão ciúrgica de poeta. Cuidar de se
apaixonar por essas palavras em especial.
Trocar correspôndencia (eletrônica, claro)
com alguma poeta muito mais experiente que você
para que ela aponte seus erros óbvios
como a falta de ritmo. E ainda poder ler
a obra poética inétida dela e emprestar muitos
livros da sua prateleira. Depois ouvir que um dia
você poderá, talvez, ser um grande poeta.
Quem sabe? Para isso servem os manuais.

Um comentário:

Anônimo disse...

seria Prático, não fosse Dolorido


(espaço para explicações do tempo)


porque Tu, meu caro, não Te moves de Ti.