A poesia é, por via das dúvidas
uma canção incerta de melodias
improváveis. Te dedico, pois,
incertezas desesperadas. E se o universo
queda de um alcoolismo absorto e violento,
o meu verso se torna um pouco
menos verso quando renego o teu amor
aos poucos. Quando te entrego mazelas.
E eu podia te devolver o que dediquei
às outras donzelas na ausência do
teu reinado, mas de que me adiantariam
os chiados? E em um salão dourado
eu podia te pedir que ficasses. Te dizer
(te mentir) que era meia-noite, que chovia.
Te contar que chorávamos. Que por sofrer
escrevemos nas paredes treslouquices e atravessamos
anti-sutis os fossos revoltosos que cercavam
o palácio. Sabendo que poderia dizer não.
Sabendo sempre que poderia dizer não.
E disseram todos que eu não deveria ter voltado,
quando já por outros motivos
haviam dito que eu não voltaria. Olha-me
bem. Não sentes que o universo roda
como se ébrio tropeçasse em si mesmo?
Um universo em convulsão, como as imagens
daquelas tapeçarias que nunca teci. Não vês? Não sentes?
Quem eram elas? As virgens espumas
que te acompanhavam os cabelos? Quem eram?
Finges não me ver. Tuas mãos carregam flores.
As minhas, sangue. Tua língua carrega mel.
A minha, álcool e fel. O asco que agora te causo.
E me olharias, ao menos, se eu colocasse
fogo no palácio? E eu teria como te pôr fogo
mais um vez? Ou apenas te tirar do torpor
verde do verão com uma ode de incertezas?
Agora, cai pelo infinito a minha canção
desencantada que, nunca cantada, jamais
tocará tua boca. Erro, desesperado, no vazio.
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