julho 25, 2006

Eu te poeto sóbrio.
Desperdiço-me
em outras palavras
que não as minhas.
Fragmento no tempo
o meu exasperar lúdico
e os relapsos dos meus efeitos.
Supero os relaxos
das nossas narrativas.

Eu te poeto sôfrego.
Despedaço-me
em outros livros
que não os meus.
Pesco pérolas poéticas
em rios que passam
assonantes. E podíamos
enlaçar as mãos agora?
Não podíamos?

Eu te poeto sonâmbulo.
Desfalco-me
em outros delírios
que não os meus.
Poderíamos pluralizar.
Poderíamos poetar. (Se enlaçássemos
as mãos.) Lembras os resvalos
que um dia nos derrubaram felizes
no rio? Inventa-os.

Eu te poeto sádico.
Despudico-me
de dar-te um beijo
quando tu menos esperas.
Soberbo, lúbrico, súbito.
Concateno desejos
sobre desejos para que
alcance a poesia e
um dia me descubra ar.

Eu te poeto sarcástico.
Desenvergonho-me
como bem sei que gostarias.
Numa tempestade
quando pudermos nos molhar
e sutilmente os ângulos
nos mostrarem que somos
tortos. Eu te poeto sinestético.
Órfico, erótico, sônico.

Eu te poeto, poeta, somático.

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