abril 17, 2006

O Destino, que por razão das flexões
de gênero da língua que hora escrevo
se apresenta como um ser masculino,
sempre foi e sempre será uma mulher,
como a Morte: uma bela e altiva mulher;
talentosa artesã tecendo os fios
da mortalha negra da humanidade;
compondo os arranjos de flores das
coroas do adeus; criando Desencontros.

E tal Deusa, do Destino e dos Fios da Vida,
disse, incerto dia, desatinos a um poeta:
"Morrerás como os Desgarrados dos portos".
Mas o poeta não acreditava em destinos,
e não conheceu - além de em outras
poesias, de outros poetas - as saudades
dos que ficam eternos, ancorados no cais;
não conheceu o esperar, as confidências,
o gemer infinito da insônia dos mortos.

Agora, poeta em sua tumba de podridão -
sua morada escabrosa -, descansa os olhos.
Há muito tempo foi seu funeral, seu triste
funeral: ninguém chorou ou ficou triste;
nem a poesia, por tanto tempo amada,
derramou um pranto, uma única lágrima.
São vermes quaisquer os que roem sua carne,
não-poetas da decomposição. Vermes,
quaisquer, em seu qualquer deleite fúnebre.

2 comentários:

Anônimo disse...

Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
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Anônimo disse...

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