julho 06, 2006

Um vasto pedaço de tango sobre nada. Um vago estilhaço. Tudo é introduzido para que os passos sejam flutuantes e depositados ao acaso. Por causa deles, arranho inocuidades enquanto persigo, imóvel, uma sombra; e se toco a sinapse das flores, é só por acaso e isso me leva a outra sombra, e a outra, e a outra... Enfim, dezenas de sombras sobre sombras tentando me fazer alguma coisa a mais que pálpebras. Eu não queria mais ser uma sombra de uma sombra – nem tornar-me invisível. Queria poder refazer os verbos, ou simplesmente masturbá-los; ou simplesmente, enquanto dançamos como se fosse um embate final.

Algumas pérolas deliciosas são necessárias para a vida. Só preciso de uma causa – uma faca – que me ajude a abrir a concha das palavras, que engoliu a madrugada. Palpitam-me álogos dos mais diversos tipos. Três chances dos tempos giratórios, dentro das condições pós, as cavidades. E em que lugar da sala deixará meu parecer-se com? Doces cones periféricos aos becos. Por causa deles, brusco, parti ao outro lado. E que prazer me daria se deixasse eu ser simplesmente trinta e dois; ou cento e cinqüenta. E minha poesia fosse feita muito de copiar e transcrever.

Se ali se falasse em Maravilhas, saberia que as prefiro às Sempre-Vivas, mas nunca às Gravanhas ou às Begônias. E esta recorrência às imagens de outrora é obviamente pela minha falta de imaginação. Hoje, noite, só consigo pensar em poemas de um único verso. Deixo os pontos nas ruas escuras. Retificada a derrota, perco-me. Pula a pulga como se estivesse com pulga nas calças. Bandido, roubo-te tremores. Farejo no ar burlescos assobios não permitidos. Como se pulsassem no desejo as borboletas da carne. Hei de, calado, suar palavrões. Um vasto pedaço de tango sobre nada.

Um comentário:

Anônimo disse...

delicioso, como já havia dito.