outubro 02, 2007

2

Aqueles corredores brancos pareciam intermináveis, infinitos; pareciam encadear-se a cada curva, a cada giro, a outros corredores brancos que também pareciam intermináveis e também pareciam – deviam – se encadear a outros corredores brancos sucessivamente encadeando-se a corredores brancos que, seqüência, pareciam se dobrar para dentro de si mesmos e pareciam o vórtice de uma convulsão branca de corredores brancos que acabaria sempre em uma implosão também branca da qual restariam como estilhaços apenas os degraus de uma escada cinza. De resto, eram apenas corredores brancos. Subindo pela escada, podia-se chegar aos armários de roupas, às salas de maquiagem ou ao estúdio de fotografia. Garotas altas e magras orbitavam nesse mundo, ignorando com seus desejos de estética e luxo o distúrbio branco das pálidas paredes dos corredores e ela, mais uma entre essas meninas. Alta, magra, loira, o nariz centrado no rosto. O que lhe faltava, porquanto, era sorte, que encontraria só alguns meses mais tarde e enfim sairia da pequena agência de paredes brancas para desfilar por uma maior e depois por outra, maior ainda. Os corredores brancos sempre foram um meio, nunca um fim. Mesmo a agência de modelos para qual irá é também um meio. E a outra. Tudo é meio. O fim é o luxo eterno.

Nenhum comentário: