novembro 06, 2006

poesia (ainda) de carnaval [Lavínia Rotrèvre]

a avenida era extremamente colorida.
a escola, a bateria
e as passistas também.
só eu era cinza.
eu era a cabrocha que queria
sambar ouvindo rock
inglês.
por isso fiquei em casa
bebendo uma xícara de chá
e usando roupas bem-comportadas,
sem lantejoula nenhuma.
mas, só de fantasia,
uma vez eu fui uma puta
cheia de glitter e purpurina.
às cinco em ponto sentei na mesa,
de cinta-liga e mini-saia,
e pedi que me servissem o chá.
às sete fui para a festa
e às nove e meia voltei
por algumas horas a ser aquela
brasileira de sempre.
duas e dezoito da manhã fui embora do seu apartamento
sem dizer adeus
sem dizer nem mesmo meu nome.
já em casa, às quatro e quarenta e três,
tomei a última garrafa de vinho francês
que restou da minha decadência.
uma cachaça cairia bem.

Um comentário:

Cauê disse...

leiam essa poesia na revista espetáculo edição de dezembro