“Você está sentindo seus dentes?” – me perguntava o meu amigo enquanto batia com a ponta dos dedos nos incisivos.
“Óbvio, por quê?”.
“Eu não sinto os meus!”
E nós rimos. Estávamos sentados no pátio do colégio rindo alto; meio-dia e pouco, as pessoas – alunos do ensino médio, alunos das engenharias – passavam, desatentas, recém saídas de suas aulas.
Há pouco tivemos a última aula de física do último ano do ensino médio. O professor nos liberou meia hora
antes de bater o sinal; aproveitamos para comemorar.
Uma amiga passa e nos vê. “Vocês estão bêbados?” – pergunta.
Rimos mais.
A garrafa de conhaque ficou, vazia, na sarjeta da Avenida 7 de Setembro. Estava calor, ainda tinha cursinho à tarde; o Cícero tinha que voltar para Campo Largo. (Essa hora o Guilherme deveria estar chegando em casa – um pouco menos que nós.)
“Ah, vocês estão bêbados!”
“Só um pouco...” – respondi, como de costume.
Naquele dia eu ainda iria escrever uma redação com um lápis de pedreiro, abraçaria minha irmã várias vezes – esquecendo que já havia abraçado –; o Guilherme derrubaria batata frita em cima da sua mãe; o Cícero entraria no ônibus e chegaria sabe-se lá como em casa, só para desmaiar na sala.
E eu diria: “Definitivamente, conhaque é forte demais para certas pessoas.” E até hoje temos certo receio da bebida. E de perder os dentes.
2 comentários:
Malditas batatas;
Maldito conhaque;
Maldito Satanico!
o vermelho dos biarticulados tingindo, de quando em quando, os meus olhos, que nao viam quase mais nada foi uma das sensacoes mais .... vermelhas .... que tive!
a sargeta esta la, o colegio, o posto, as pessoas que passavam por nos, o proprio kiko, proprietario da faca que abriu A GARRAFA permanecem, nao sei ateh quando!
mas os dentes, que nao se foram, e o vermelho.. ficarao para sempre!!
Abraço, Alberton
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