julho 19, 2006

auto retrato I

eu não tinha mais motivos para acreditar na poesia
nem no google
nem na wikipedia
e nem sociólogos e filósofos com nomes de difícil
pronúncia para o meu tupiniquin rasgado
podia ler lyotard e tentar descobrir
ao final de todas as contas
se ele é a favor ou não da pós-modernidade
ou eu podia ficar sentado olhando para a tela do computador
meio embaçada
ouvindo libertines
que foi o que eu fiz
porque o dia mais feliz da minha vida
foi quando descobri que eu nunca seria arthur rimbaud
de desbunde resolvi ser todos os outros
e ainda copiar imagens do francesinho como bem me coubesse
só gostaria de saber se lyotard
também francês
defenderia ou não minha decisão
porque ainda não consegui descobrir se ele gosta ou não
embora a wikipedia tenha me dito que ele gosta
e o ítalo moriconi tenha me dito que não
e o ezra pound tenha me dito que para ser poeta
tem que tocar cítara e falar grego antigo
não faço nenhum dos dois e não pretendo aprender
mas ele gostava do cummings
e eu também gosto do cummings
e os irmãos campos também gostavam do cummings
e o cummings não sabia nenhum dos dois
acho
mas sabia pintar
e o que eu sei é mexer no computador e tocar baixo
fico ouvindo libertines e querendo ter uma banda de rock
que se chame pós
e uma que se chame memes
que já existe, mas não ensaia
e quanto menos motivos tenho para acreditar na poesia
mais escrevo
que quanto mais inútil ela me parecer
mais vou escrever
essa coisa que me sai assim
talvez por todos os livros que ainda não li
que eu tentava ler joyce
mas o gabo disse que quando leu joyce aos vinte anos foi inútil
eu tenho dezenove
e leio lytoard a duras penas
mas escuto bastante música, se isso servir de agum consolo
li pouco de drummond mas digo que é o maior poeta brasileiro
o poeta brasileiro que mais li é paulo leminski
e embora meu texto não pareça muito com o dele
também escrevo porque é preciso
e meu sonho é escrever um poema como iceberg
uma prática pálida, três versos de gelo
ou como rose rilke raimundo corrêa
se é que o nome era esse
que falava das pálpebras
imagem que também já copiei em algum texto por aí
depois que resolvi que copiar era a melhor solução
e ainda dizer que é meu
era isso ou ficar parando enquanto toca libertines
ou dançar sozinho
danço e escrevo
e às vezes tenho que consultar a wikipedia
ou procurar alguma coisa no google
mas são recaídas que também tenho aos caras dos nomes
que não consigo dizer
e à poesia, ao pó da heresia
quase até que diariamente
e me parece natural não saber bem se falei ou não das coisas

2 comentários:

Anônimo disse...

o google é uma grande e perigosa narrativa pós-moderna
(que fala das coisas)

Anônimo disse...

ooooooooooo do sabiá...