junho 12, 2007

primeira ode

no pára-brisa dos carros
parados
sal a gosto (fino,
não grosso) sal a rodo: profusão de neve-granulada

nada, porém, que estremeça
qualquer intumescência da madrugada,
nada. mas... que estremeça! - quem
se importa?
- são apenas grãos de sal
&
já nem venta: não venta - ninguém
espera que vente,
quem espera
que vente?

ninguém!: o gesto é demasiado humano
para que se acredite na transubstanciação

& é o pára-raios da antena de rádio
que cessa toda
possível estática (não a falta de vento):

o que eu queria mesmo, Lídia, era te dizer que a tempestade passou
que venci o vento (estou além
do vento
agora
&
a neve está quase intocada, quase) - a neve
mesmo que fantasia, mesmo que sal, mesmo que nada,
é inamovível dos
pára-brisas - inamovível! - nada
a estremece, nada

& do ventre da madrugada arrogante
o que resta
é um salpicar autômato que não me interessa
não me interessa -

a quem interessa?

não há sentido nisso
não há sentido em nenhum nível que não o humano

& mesmo assim ninguém se preocupa em cercar a idéia
ninguém se preocupa. quem
se preocupa? o conceito me escapa:
resta o concreto,
fim de um gesto muito mais plástico
que qualquer outro
alvoroço:

cessa o gesto do abandono a queda,
nunca o sopro.